Colônia
Gatos se "adonam" de imóvel abandonado na Gonçalves Chaves
Vizinhos estimam que pelo menos 80 felinos habitem o local atualmente; município não dispõe de gatil
Jô Folha -
Mais do que maus-tratos, o caso põe em risco a saúde pública dos moradores de Pelotas, especialmente os vizinhos.
Em plena rua Gonçalves Chaves, entre as ruas Doutor Cassiano e Major Cícero, centro da cidade, uma casa aparentemente abandonada comporta uma colônia de gatos sobrevivendo em condições precárias. Morando no local desde abril do ano passado, os felinos dependem de doações externas e do acesso cedido pela vizinha que mora ao lado para dar conta de alimentá-los. O problema é que sem o apoio do Poder Público para atuar na castração e conseguir um destino responsável para eles, o caso e as consequências dificilmente serão revertidos.
A dimensão do problema chegou aos ouvidos de um grupo que, diante dos fatos, passou a solicitar ajuda do Centro de Controle de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde, e desenvolver maneiras de arrecadar dinheiro para providenciar ações. Em julho de 2015, após contato com o Centro, 25 castrações foram feitas. Na época 40 felinos viviam no local, hoje o número chega a 80. Os animais que passaram pela cirurgia foram devolvidos ao mesmo local pois, em Pelotas, não existe um gatil.
No entanto, a vizinha ao lado, que se depara todos os dias com os incômodos causados pela situação, acabou impedindo o acesso pela sua casa diante das devoluções. Além de alimentá-los diariamente, ela precisa ter cuidado redobrado com a caixa d’água que abastece a sua casa por conta do risco de contaminação. A moradora ainda sofre com a precariedade da residência que, abandonada, gera sérias infiltrações em suas paredes.
Todo dia pela manhã, por volta das 9h, ela amarra um recipiente com ração em uma corda que chega aos felinos. Este é o momento em que todos saem pelos telhados e janelas quebradas em busca do alimento. Do 4º andar do prédio da frente, é possível ver os danos do telhado, que caracterizam o abandono. Além disso, os gatos passeando por cima das demais casas da região são comuns em horários com baixa luminosidade.
De acordo com membros do Centro de Zoonoses, o processo está em tramitação na promotoria e, para entrar na residência, é necessária uma ordem judicial. Porém, em contato com o Ministério Público (MP), a informação é de que o caso foi arquivado após um processo investigatório. Sobre a dona da casa, sabe-se apenas boatos. Alguns vizinhos dizem que ela aparece raramente no local e não mora em Pelotas.
Risco é geral
A falta de controle sanitário da situação é o que, segundo a professora do Departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Marlete Cleff, mais deve ser alvo de preocupação.
Além das doenças adquiridas pelos animais por ausência de cuidados, existe a possibilidade de transmissão aos humanos. Marlete explica que os gatos geralmente saem à noite e retornam para o local, criando um caminho de infestação levada da casa para a rua, e da rua para a casa.
Além das doenças, com o alerta nacional em combate ao mosquito Aedes aegypti, a possibilidade dos pelotenses estarem diante de um foco do vírus é uma preocupação da vizinha Maria Helena Zborowvski. Em sua casa, os vasos de flores virados para baixo e a caixa da gordura tampada demonstram que o cuidado é minucioso. No entanto, não se sabe qual a situação atual da moradia cujo muro é colado ao seu.
Doenças nos felinos
# Complexos respiratórios: uma gripe adquirida pelos filhotes, geralmente por estarem em fase de baixa imunidade
# Esporotricose: lesões externas, feridas - tanto na face quanto no corpo. Em pessoas, ela aparece em lesões localizadas. Podem ser adquiridas por arranhões, mordidas, saliva e secreções dos gatos
# Parasitoses: parasitas comuns em gatos, presente nas fezes e na urina que contaminam o solo e a água.
A ajuda
Quando souberam da situação, seis pessoas se juntaram a fim de buscar soluções para o problema. Desde então, brechós beneficentes no Mercado das Pulgas todo sábado no largo Edmar Fetter, campanhas em redes sociais e tentativa de adoção responsável por meio de fotos compartilhadas fazem parte da rotina do grupo.
“Nós tentamos conseguir doações de ração e deixamos na vizinha. Mas as coisas estão indo devagar. A gente depende da ajuda de todos”, disse Bruna Martins (21), participante do grupo. Uma página no Facebook foi criada para expor a situação e manter contato com quem quiser ajudar. Na página “84 gatos da Gonça” é possível fazer doações e ajudar.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário